

O Clown: uma viagem de descoberta da mais íntima natureza do "Eu"
A figura do palhaço — seja qual for o nome que lhe damos — é transversal às épocas e às civilizações. É tido como uma personagem que denuncia e satiriza os absurdos da sua sociedade, porque é essa a verdadeira natureza da comédia: coloca-nos em confronto com as nossas contradições e faz-nos rir delas.
O palhaço como o hoje o conhecemos materializou-se no séc.XIX, no contexto do circo. Embora a palavra palhaço derive de Pagliaccio, uma personagem da Comedia dell’Arte italiana, o termo inglês clown tem sido adoptado em diversas línguas como um termo de autonomia própria.

O contributo de Jacques Lecoq para o palhaço contemporâneo
Jacques Lecoq foi um dos grandes impulsionadores do clown no séc.XX, cruzando de um modo raro as práticas do teatro com os conhecimentos do desporto e da articulação motora. Para ele, a mímica é uma das expressões mais instintivas em todos nós, porque é das primeiras aprendizagens que fazemos desde a nascença. A pedagogia de Lecoq cruza por isso a expressão mímica das emoções com a poesia abstrata do movimento corporal, num jogo de exploração e auto-descoberta que procura ir mais fundo do que as convenções geralmente assumidas na prática do palhaço.
Nesse sentido, o nariz do clown é a menor máscara do mundo, pois é reduzida ao seu mínimo, relegando o performer para um estado puro, livre de tradições e de julgamentos, na procura de atingir uma genuinidade do Ser e do Aqui.
“ Existe em nós uma criança que cresceu e que a sociedade não permite aparecer; a cena a permitirá melhor do que a vida ”
Jaqcues Lecoq,
em “Le Théâtre du geste”

foto: © Sara Camilo
O Clown - o Novo Palhaço na EIPÁ!
Este é o nosso legado e ponto de partida para uma viagem de descoberta do seu Universo Cómico. É um convite à exploração dos seus próprios medos e inseguranças, para transoformá-los nas suas forças. Trabalhar a técnica do palhaço é atingir um estado de pura curiosidade, alegria e prazer tal qual uma criança, mas também trespassar a energia dos vários palhaços que podem coexistir em cada um de nós.
Sê flexível e não te leves a sério.
Não é preciso ter nada,
só é preciso estar totalmente pronto.
O clown está no presente, não se preocupa.
Ver com a cabeça, ouvir com os braços,
respirar com o tronco e falar com as pernas.
Nunca dizer “posso?”
pois aqui pode-se tudo!
O universo é sempre generoso
e os objetos têm sempre razão.
Prazer, rigor e escuta.
O ciclo, o círculo e o circo da vida.
Luciano Amarelo